Um pouco de Soul

Talvez eu tenha tomado café demais neste dia de calor em Brasília, mas a verdade é que não consigo dormir. Ou deve ser a cabeça borbulhando depois de assistir Soul, a animação da Pixar que vinha chamando minha atenção há dias, e só agora consegui assistir.

Joe Gardner: o personagem que revisita a vida em Soul

Caramba! Quanta vida em um enredo que trata da morte de um personagem que tudo o que tem é o jazz como sua paixão. Quanta poesia em um texto. Quanta ternura para falar de depressão, de relações superficiais, de sentimentos pesados, como quando a gente se sente um peso morto, sem propósito, em um mundo que exige tanto de nós, mortais. Quanta docilidade para tratar do óbvio – aquele de que a vida é e tem de ser mais o que o que nos apresentaram.

Outro dia estava lendo sobre a ideia de capital humano e o quanto ela moldou o desenvolvimento até aqui. Em outras palavras, o quanto o homem deixou de contemplar a vida pela vida para dar um salto em suas conquistas. O que não se fala é o alto preço disso. O capitalismo transformou a gente em máquinas programadas para o trabalho e a sociedade é aquela que bate na porta no dia a dia e pergunta: – quem é você e o que tem a oferecer? Ofereça e eu pago as suas contas.

Mas engana-se quem pensa que essa recompensa é só em troca de trabalho. A conta é muito mais alta: é o seu tempo de vida. A gente vende nosso tempo na Terra, nossos anos de juventude, nossa chance de olhar novamente tudo como se fosse pela primeira vez em troca da vez de usar o dinheiro. Parece um péssimo negócio, não é? É.

Soul é excelente porque mostra com doçura que a vida lá fora é tão selvagem quanto abrir a janela em um dia comum de Nova Iorque. A gente pode se incomodar com os barulhos dos carros, mas se reparar direitinho, vai ouvir e sentir também o cantar dos pássaros existindo ao mesmo tempo…

E, aliás, quando foi que você sentiu as pequenas grandes coisas da vida como se fosse a primeira vez?

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